domingo, 25 de março de 2012

A IMPORTÂNCIA DA LIGA CAXIENSE NA REGRA BRASILEIRA.

A grande maioria dos botonistas já conhece a história da criação da Regra Brasileira. Foi por iniciativa do presidente da Federação Riograndense de Futebol de Mesa e o presidente da Liga Caxiense, que elaboraram um anteprojeto que foi aceito, depois de discutido com um grupo de botonistas baianos. Só que ignoram como tudo isso começou...
O futebol de mesa, na cidade de Caxias do Sul, começou a ser disputado organizadamente no ano de 1963. Nesse ano, diversas agremiações inseriram como uma maneira de diversão o nosso esporte, que era então um lazer. Os campeonatos eram realizados pelo Recreio Guarany, AABB, Grêmio Banrisul e Sindicato dos Bancários. O primeiro movimento organizado foi realizado pelo presidente do Sindicato dos Bancários de Caxias do Sul, Dauro Brandão de Mello. Na própria sede, bancários de várias instituições se reuniram e realizaram o primeiro campeonato. Na sequência, a AABB e o Banrisul efetuaram seus certames. O Recreio Guarany realizava seus campeonatos reunindo uma garotada incrível. Faltava um certame municipal. Foi então que os líderes bancários se reuniram e resolveram criar o campeonato caxiense, o qual se efetivou no segundo semestre de 1963, pela primeira vez na história.
Os botonistas de então, acompanhando a Folha da Tarde Esportiva, tomavam conhecimento da realização do Campeonato Estadual de Futebol de Mesa, patrocinado pela FRFM. O ano findou e nós não fomos convidados a participar desse estadual.
Ano seguinte, tudo aconteceu da mesma maneira. Esperamos para, no final do ano, sermos convidados. Novamente fomos ignorados. Então resolvemos escrever ao presidente da FRFM para saber o motivo que nos impedia de participar daquela que seria a festa maior do botonismo gaúcho. Foi-nos comunicado que deveríamos criar um órgão que dirigisse os certames e esse órgão é quem deveria filiar-se à FRFM. Foi então que, na época cursando a Faculdade de Ciências Econômicas de Caxias do Sul, convocamos os demais líderes e criamos a nossa Liga Caxiense de Futebol de Mesa, nas dependências do centro Acadêmico Amaro Cavalcanti. Fomos indicados para a presidência.
Para coroar essa iniciativa resolvemos organizar um Torneio denominado Liga Caxiense de Futebol de Mesa, convidando todos os dirigentes da FRFM. Vieram, a Caxias, o presidente da FRFM, Sr. Lenine Macedo de Souza, Cláudio Saraiva, Renato Ramos e Sérgio Duro e com o pessoal local, na sede da AABB, realizamos o grande torneio que marcou o início de nossa caminhada. Os amigos da capital levaram para casa todos os troféus em disputa.
No final do ano de 1965, estávamos habilitados a disputar o ambicionado campeonato estadual da modalidade. Deodatto Maggi foi o campeão. No dia marcado, dirigimo-nos para Porto Alegre, o campeão Maggi, Sérgio Calegari e eu, para, na sede social do E. C. Piratas prestigiarmos esse importante acontecimento. Naquele local, encontramos apenas Paulo Borges, campeão porto-alegrense, sua mesa e ninguém mais. Éramos quatro pessoas, das quais somente duas em condições de disputarem o título de campeão. Um de nós atuou como árbitro e vimos Paulo Borges tornar-se campeão gaúcho de futebol de mesa, restando, ao derrotado, a glória de ser vice-campeão. Foi decepcionante, pois não imaginávamos esse quadro tão desmotivador.
Seguimos a nossa vida. A FRFM elege Gilberto Ghizi para sua presidência. Há uma aproximação dele com a Liga Caxiense. Em julho, por ocasião de nosso primeiro aniversário, realizamos um grande torneio, ainda na sede da AABB. Solicitamos ao Ghizi que convidasse, através da FRFM, todos os associados estaduais. Dessa vez, além dos porto-alegrenses, vieram amigos de Rio Grande, Arroio Grande e São Leopoldo. Como nós éramos os patrocinadores, convidamos o baiano Oldemar Seixas para participar, explicando que a regra utilizada seria a nossa regra gaúcha. Nós já enviáramos exemplares da regra para que ele tomasse conhecimento. Para nossa alegria, não só Oldemar Seixas veio ao evento. Trouxe consigo Ademar Carvalho. Atravessaram o Brasil para jogar futebol de mesa em Caxias do Sul.
O torneio transcorreu em alto nível, com os porto-alegrenses vencendo seus oponentes, com apenas um detalhe importante: Ademar Carvalho, jogando com botões padronizados, lisos, enfrentando a cada adversário, vencendo-os, apesar do desconhecimento quase total da regra. Chegou à final com Carlos Saraiva e perdeu por um detalhe, pois, ao atrasar uma bola para seu arqueiro, fê-lo com alguma força e o botão liso carregou o arqueiro e a bolinha para dentro do gol. Foi vice-campeão com méritos. Em sua caminhada derrubou grandes botonistas gaúchos. Isso chamou a atenção de todos os que estavam no torneio.
Após o encerramento, a entrega de prêmios, e servindo como uma confraternização, os dois baianos fizeram uma demonstração do futebol de mesa de sua terra, em uma mesa previamente preparada. Foi nesse momento sublime que a Regra Brasileira começou a ser gerada. Ghizi, aproximando-se de mim comentou: - Eles também jogam um toque, só que em uma mesa maior do que a nossa. Mas a beleza de times padronizados, não usados por nós, é muito linda. E as goleiras maiores dão um colorido todo especial quando chutam ao gol. Dá para acompanhar a bolinha passando pelo goleiro que joga em pé, ao contrário do nosso.
Ghizi continuou nos visitando e numa dessas ocasiões fez um pedido: - Vocês podem organizar o campeonato estadual desse ano?
Respondi-lhe que faria, desde que fosse feito nas três categorias: infantil, juvenil e adulto, e que a FRFM se encarregasse de convidar todos os seus associados. O campeonato estadual de 1966 foi maravilhoso e coroou de êxito a iniciativa do presidente da FRFM. Enquanto alinhavávamos o estadual, trocávamos idéias sobre uma possível regra que, unindo o que havia de bom na nossa com a parte boa da baiana. Abolimos uma série de imperfeições que existiam em ambas as regras e conservamos praticamente a essência do que é hoje a Regra Brasileira. Para o estadual, havíamos conseguido alojar todos os participantes no Seminário Diocesano, pois os alunos estavam de férias. A única obrigatoriedade seria a de cada um trazer seu lençol, travesseiro e cobertas. Não haveria custo algum. A comida nós também havíamos conseguido com um restaurante perto do local onde seriam os jogos.
Na noite anterior ao certame, foi realizada uma Assembléia, comandada pelo presidente da FRFM, onde foi apresentado o anteprojeto da Regra que seria levada à Bahia, para ser discutida. Ponderamos que ela seria a porta para futuras competições em níveis nacionais. Foi aprovada por todos os presentes, não havendo o registro de nenhuma objeção. A Regra Brasileira começava a ganhar sinais de vida.
Na Bahia, discutido ponderadamente todos os itens, foi criada a Regra que deveria mudar o destino do futebol de mesa brasileiro. Do que foi levado por nós, a única diferença existente foi relativa ao tamanho da mesa. Pleiteávamos uma mesa intermediária, maior do que a gaúcha e menor do que a baiana. Diante da argumentação apresentada pelos nordestinos, curvamo-nos, pois muitas associações, principalmente no interior, não teriam condições de modificar suas mesas. Financeiramente seria impossível e isso talvez prejudicasse a aceitação da nova regra. Nós teríamos a obrigação de construir novas mesas, as quais seriam bem maiores do que as que utilizávamos na Regra Gaúcha.
Caxias aceitou e adotou prontamente a Regra, pois foi ela a geradora dessa maravilhosa maneira de jogar, pois, em julho de 1966, havia mostrado aos botonistas gaúchos que haveria uma possibilidade real de unir todos os brasileiros ao redor de mesas, praticando aquilo que gostamos de fazer, jogar botão. Para isso seria necessário abdicar de algumas práticas que dominávamos e aprender novas. Infelizmente, nem todos quiseram começar algo novo e continuaram jogando a regra gaúcha, sem a possibilidade de grandes eventos de proporção nacional.
Por isso, meus amigos, a Liga Caxiense de Futebol de Mesa, hoje AFM Caxias do Sul, foi a geradora de uma idéia que deu certo. Aliás, deu muito certo, para a felicidade de todos nós.
Até a semana que vem, se Deus assim permitir.
Sambaquy

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