segunda-feira, 2 de abril de 2012

DE SONHO EM SONHO CHEGAMOS AO MUNDIAL

Quem tem a alegria de acompanhar as histórias dos botonistas, publicadas nos Cromos do Gothe, sabe perfeitamente que o início da trajetória de cada um é quase sempre igual. Os precursores, aqueles mais antigos (entre os quais me incluo) iniciaram raptando botões em paletós e sobretudos, os quais, depois de lixados e preparados faziam a nossa felicidade. A geração que veio após a nossa foi premiada com times padronizados da estrela ou da Gulliver, com o distintivo do time ou com a foto dos jogadores. Começava por aí o amor ao esporte que nos fascina de um modo todo especial.
Lembro que nos primeiros encontros que fazíamos na minha cidade natal, ao nos defrontarmos com outro botonista, sempre surgia a pergunta: Já ganhaste algum título? A resposta era sempre a mesma: - Sou campeão caxiense!
Campeão caxiense? Com quem jogaste? A resposta era somente a mudança de rua. Joguei o campeonato da Rua Marechal Floriano, da Alfredo Chaves, da Avenida Julio de Castilhos, da Moreira César, etc. Por isso, Caxias fervilhava de campeões de futebol de mesa.
Essa foi a razão que nos impulsionou à realização de um campeonato caxiense que fosse acolhido por todos e que apresentasse um nome que fosse aceito por ter vencido a disputa aberta e leal contra todos os demais participantes. Não seria limitado ao campeonato de uma rua, de alguns amigos que praticavam o futebol de botões.
No ano de 1963, conseguimos realizar o nosso primeiro campeonato oficial. Repetimos no ano seguinte e a experiência validou nossos esforços. Procuramos a Federação Riograndense de Futebol de Mesa, pois ainda não possuíamos uma entidade que agregasse os aficionados do esporte dos botões. Instruídos por ela, em 1965 fundamos a Liga Caxiense de Futebol de Mesa e, a partir dessa criação, Caxias do Sul nunca mais foi a mesma.
Nossa primeira experiência foi a realização do campeonato municipal. Ao fundarmos a nossa Liga, resolvemos que deveríamos alçar voos mais altos e promovemos um interestadual, convidando amigos de Porto Alegre para o primeiro Torneio Inaugural de nossa entidade.
Os porto-alegrenses carregaram todos os troféus, deixando em Caxias a certeza de que poderíamos fazer grandes promoções, bem diferentes dos campeonatos de ruas tão populares no início de nossa caminhada. Ao completar um ano de existência, mais um grande torneio foi idealizado por nós. Seria a comemoração de um ano de atividades oficiais de nossa agremiação. Convidamos porto-alegrenses, rio-grandinos, leopoldenses e rio-pardinos para, conosco, confraternizarem em um torneio de futebol de mesa. Nessa época, eu já mantinha contato com pessoas de outros estados e, por educação, remeti-lhes o mesmo convite já aceito por nossos conterrâneos. Para surpresa geral, dois baianos vieram, atravessando o país para nos honrar com sua presença. O torneio passou de intermunicipal para interestadual.
Sentimos que poderíamos sonhar mais alto. Afinal, havíamos saído da toca e não necessitávamos nos esconder para a prática de nosso esporte. Deixávamos de jogar nos porões, nas garagens, nos sótãos para jogar em ambientes sociais, dentro de clubes.
Aquela primeira experiência, chamada campeonato municipal, que já havia se tornado maior com o campeonato estadual, agora clamava por um campeonato nacional. Era um sonho que foi alimentado por alguns gaúchos e baianos. Haveríamos de conseguir, pois a primeira pedra da construção fora lançada naquele torneio de aniversário da Liga Caxiense.
No início dos anos setenta, o sonho se tornou realidade e, em Salvador, capital baiana, sete estados estão reunidos para o primeiro campeonato brasileiro, na regra de um toque.
Dez anos depois, o pessoal da regra de três toques começa a realizar os seus campeonatos. Mais seis anos, e a regra de doze toques entra para o rol dos pioneiros em campeonatos brasileiros. Eram três grupos distintos que estavam dando aos botonistas a chance de se conhecerem e trocarem idias, jogarem, formarem amizades e desenvolverem o nosso esporte tão amado.
A união de seus dirigentes acabou fazendo com que o CND homologasse o futebol de mesa como esporte reconhecido e deixasse a condição de lazer. Era uma grande vitória que estava sendo conquistada, com muito esforço.
Mas, como todo grande sonho, ainda faltava uma complementação. Um mundial da modalidade. Cada botonista é adepto e torcedor de um clube de futebol e todos torcem pela nossa Seleção Brasileira. Desde 1950 acompanhamos os mundiais. Em cada cabeça de botonista, a imagem da realização de um mundial em que ele estivesse presente, defendendo a sua pátria. Por que não? Afinal, são os sonhos que movem a grande roda da vida.
Hoje não se trata mais de um sonho. É uma grande realidade e será realizado em nosso país o Mundial de Futebol de Mesa. Acredito que estamos muito bem organizados e possuímos lideranças de valor inestimável que promovem o futebol de mesa com uma vitalidade de fazer inveja a muitos outros esportes.
Brasileiros, sob a tutela de nossa Confederação Brasileira de Futebol de Mesa, participaram no Hungria de um campeonato mundial. Para lá, levaram a regra de doze toques e a apresentaram ao mundo. Foi o debute de uma regra brasileira diante dos olhos estrangeiros.
Vamos promover, agora, em nosso país, o campeonato que estará sendo jogado na regra de doze toques e no Sectorbal.
Gostaria, como velho botonista, de sugerir à nossa CONFEDERAÇÃO a minha idéia, a qual faz parte de meus sonhos de idealista. Sei bem que não teremos tempo para essa promoção que se avizinha, mas, como seremos patrocinadores da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016, no entanto vale pedir que seja estudada, com carinho, a possibilidade de um novo campeonato Mundial.
Nesse campeonato, sejam disputados em todas as regras oficiais que são adotadas pela Confederação, juntamente com as regras que foram trazidas do exterior. Que o campeonato seja realizado em uma semana inteira de jogos. Falo isso, pois se observarmos o campeonato de natação, por exemplo, são várias a modalidades que estão em disputa. Nem todas são disputadas no mesmo dia e afluência de público é sempre considerável.
Explico melhor a minha idéia. No primeiro dia, haveria a disputa de um Mundial da Regra de um Toque, com botões lisos. No segundo dia, com botões cavados, na regra de um toque. No terceiro, a regra de três toques. No quarto, na regra de doze toques; no quinto, teríamos a regra do dadinho e, no sexto, a disputa seria no sistema Sectorbal.
Para realizar tudo isso, as Federações Estaduais indicariam o seu campeão estadual, (com a possibilidade de indicação do vice-campeão, no caso do impedimento do campeão) para cada modalidade. Seria um representante de cada estado que disputaria, com os estrangeiros, a Copa do Mundo. Isso poderia ser efetivado nas modalidades que estão em voga, ou seja, Juvenis, adultos e masters.  Dessa forma, os nossos visitantes poderiam tomar conhecimento das modalidades que são jogadas em nossa terra e se quisessem se aprimorar teriam de trocar idéias e praticar conosco. Da mesma forma, nós, se quisermos jogar as modalidades de outros países, teremos de manter contatos e aprender com eles.
Acredito ser uma maneira de valorização  dos nossos jogos estaduais, fazendo com que a responsabilidade daquele que fosse vencedor seja premiada com essa chance de ser representante único de seu estado, com a possibilidade de trazer para sua Federação o troféu maior do Mundo: o título de Campeão Mundial de Futebol de Mesa.
Essa é a minha sugestão, que deverá ser estudada, apreciada e discutida entre os dirigentes da Confederação Brasileira de Futebol de Mesa e exposta aos demais dirigentes de Confederações espalhados pelo mundo. Só assim poderemos divulgar o nosso futebol de mesa, o que, acredito, com ampla cobertura da mídia esportiva, pois será de âmbito internacional. Se o conseguirmos, com toda a certeza do mundo, ninguém mais segura o nosso esporte.
Estamos perto de conseguir tudo isso. Para isso, deveremos ter a vontade de realizar. Saímos dos campeonatos de rua para o mundial da modalidade. Quem não sonha com isso?
Até a semana que vem, se Deus assim permitir.
Sambaquy

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