segunda-feira, 30 de abril de 2012

CADA REGRA DE FUTEBOL DE MESA TEM A SUA HISTÓRIA. REGRA PERNAMBUCANA.


Tenho, em minhas colunas, contado sobre a criação da Regra Brasileira realizada em Salvador, capital baiana, em janeiro de 1967. Com o passar do tempo, muita coisa foi modificada, ajustando-se para que cada vez ela fique mais atraente.
Há alguns dias, recebi um e-mail do Edu Caxias, perguntando-me se possuía exemplares antigos da regra gaúcha e baiana, anteriores a essa fusão. Respondi-lhe que o exemplar da Regra Baiana está depositado na AFM Caxias do Sul, mas, infelizmente, os exemplares que tínhamos da Regra Gaúcha foram enviados aos amigos baianos para que a estudassem, assim como nós, estávamos fazendo com a regra deles.
Isso fez nascer em mim a curiosidade demonstrada pelo Edu, mas num sentido mais amplo. Qual a história das regras que estão sendo disputadas, com tanto ardor nesses encontros de botonistas em todo nosso país?
A pioneira, editada em 1930, por Geraldo Cardoso Décourt, chamava-se Regras de Foot-Ball Celotex. Há um exemplar dessa regra, devidamente, autenticado pelo Décourt, guardado no cofre da AFM. Quando estive visitando o Getúlio Reis de Faria, no Rio de Janeiro, em 1982, ele me mostrou um time que jogava a regra Celotex. Havia botões torneados de madeira. Uma preciosidade maravilhosa.

O embrião da Regra Gaúcha é formado em 1941, quando Lenine Macedo de Souza cria a Sociedade General Lima e Silva na cidade de Porto Alegre. Vinte anos depois, o mesmo Lenine cria a primeira Federação de Futebol de Mesa do Brasil, jogando com a Regra Gaúcha.
Com a diferença de onze anos da publicação da celotex para a gaúcha, imaginava que fossem essas as duas regras mais antigas em vigor no nosso país. Eis que recebo do meu amigo Armando Pordeus, de Recife, um livro com a Regra Pernambucana de Futebol de Mesa. E, nela, o histórico é bastante elucidativo. Diz que a regra oficial da Boa Vista veio à tona, ao que tudo indica nos idos de 1940, à Rua Barão de São Borja, no bairro da Boa Vista, residência de Aldiro Santos, maior nome do celotex de todos os tempos. Juntamente com outros botonistas famosos, tais como Armando Francisco, conhecido entre os amigos como “Cabeça de Ataúde”, Pedrinho Palmatória, Vilaça, Chico Aborto Barbosa, Mário Sandes, Severino Vieira, René César, esse oriundo do bairro de São José, onde se jogava o “celotex” na regra chamada de “pingue-pongue”.
Depois, com a mudança de residência de Aldiro Santos, o jogo passou para a sua nova morada à Rua Montevidéu, também na Boa Vista no Parque Amorim; passou a ser jogada na Rua da Glória, naquele bairro, na residência dos familiares de Biú (Severino Vieira). Isso no início dos anos 50.
Nova safra de botonistas surge: Gilvan Carvalho, Humberto Simons, Clóvis Sandes, Fernando “Gordo de Pipoca”, Adão Pinheiro que, juntamente com os decanos, passaram a difundir a regra da Boa Viagem em outros bairros de Recife.
Destaque maior foi para o bairro da Estância, onde pontificavam os nomes como o de Lula Pesão, Hemetério, seu irmão mais novo, Paulo Felinto Gouveia de Albuquerque, o mais fanático praticante de celotex do Recife, seus primos Murilo, Aldênio e Rominho, os quais jogavam valendo-se da regra “leva-leva”.
Somente no início dos anos 60, quando botonistas da Estância começaram a frequentar a Boa Vista, já na Rua da Matriz, foi que se adotou definitivamente a Regra da Boa Vista, a famosa regra da bola de borracha, da tabelinha.
Destaque para os botonistas Valdir Santa Clara, Valterlys, os irmãos Abdon e Abiud e a nova safra: Ribamar, Marcos Securinha, Tuca, Silvio Romero, Adilson, Paulinho, Nadilson, entre outros. Muitos desses botonistas se espalharam, alguns já fizeram a grande viagem, outros já não praticam esse esporte, mas os que continuaram levam a sério a prática do celotex e fazem com que as novas gerações perpetuem o futebol de mesa, nome pelo qual vai ficando conhecido.
Foi de propósito que se deixou para citar, somente agora, Armando Francisco, “Armandinho”, filho de um dos pioneiros do celotex e que deu uma dinâmica maior ao esporte, mesmo utilizando outra regra, fazendo com que o jogo de botão conseguisse mais e mais adeptos. Graças à atuação desse maravilhoso botonista, a Regra da Boa Vista agora está sendo levada para as dependências do Santa Cruz Futebol Clube, onde se acredita que terá uma grande expansão.
Hoje, aqueles antigos botonistas, seus descendentes e os poucos amigos que se aventuram por esse jogo, distraem-se aos domingos pela manhã, na Rua Cosmorama, no Setúbal, bairro de Boa Viagem, residência do famoso Francisco Barbosa que continua com o mesmo excelente celotex, juntamente com a nata do futebol de mesa dos dias atuais: Marcos Bundão, Cláudio, Elvison, Paulo Juquiá, Celso, Tiago Papinha, Juliano, João Antônio e os veteranos e cada vez mais cobrões: Chico, René, Pedrinho, Demil, Abiud, Paulo Felinto, Ribamar, Tuca, Hercules, Marcos Securinha.
Também, às quintas feiras, no bairro do IPSEP, na residência de Demil, outro botonista veterano, sendo que esse é oriundo de Tejipió, com uma ou outra aparição na Estância e frequentador assíduo das manhas domingueiras do Setúbal. No IPSEP, além dos já citados, pontificam botonistas do quilate de um Dinoraldo, Albertinho, do aprendiz Marcos Gafanhoto, do novato Felipe, o “securinha” Adilson e Humberto Securão.
Louve-se também a atuação de Ribamar, o popular Rabão, que conseguiu despertar alguns botonistas aposentados a voltarem a praticar o celotex e fez retomar à atividade A LIGA AMADORISTA DE FUTEBOL DE MESA (LAFME) em sua residência, organizando um campeonato, reunindo 29 botonistas com todo sucesso em que pese às inúmeras dificuldades que teve.
Graças a esse gesto é que se pode ir mais longe nessa aventura e é por isso que o entusiasmo entre os praticantes continua de vento em popa. É o velho celotex de volta, com força total, praticado na mais pernambucana das regras praticadas, a mais que famosa Regra de Celotex de Boa Vista, agora intitulada REGRA PERNAMBUCANA DE FUTEBOL DE MESA, carinhosamente conhecida como a Rainha das Regras.
Essa é a minha homenagem aos amigos pernambucanos que, através do Armando Pordeus, fizeram chegar essa grandiosa história de luta pelo nosso esporte, iniciada juntamente com a batalha que Lenine travou numa época em que o futebol de mesa era coisa de criança.
Armando, que mais uma vez me surpreendeu, enviou-me um segundo time da Regra Pernambucana (SER Caxias do Sul), um time da Regra Fogo Tebei (o Real Boa Viagem), várias bolinhas de borracha, um par de traves, três times de vidrilhas (Inter, Caxias e Barcelona), um CD do seu projeto Botão na Escola e um boné que ganhou por sua participação na Copa do Brasil, 12 toques, realizada em Caruaru há poucos dias.
Para ilustrar, quis postar algumas fotos de botonistas pernambucanos, para que sintam que o amor pelo nosso esporte é igual de norte a sul, de leste a oeste.
Armando joga com seu SER Caxias
Armando e Armandinho
Hercules, Paulo Felinto e Abiud Gomes
HerculesXTimbuII 
Time do Inter recebido por mim (Presente de Armando)
Goleiro da Regra Pernambucana
Paulo Filinto
Paulo Jiqui e Paulo Filinto
PE - final do open

Até a semana que vem, se Deus permitir.
Sambaquy

4 comentários:

  1. Meu caro Adauto Celso Sambaquy. Foi com muita emoção que vi o texto da regra pernambucana (botãobol)em seu blog. Sou botonista desde 1946, quando tive meu primeiro time de botões de capa, o América. Quando escrevi a regra pernambucana (antes, não havia nenhum documento sobre a mesma)tive que fazer várias pesquisas e apelar para a memória de vários botonistas que conviveram comigo desde os primórdios. O que está escrito é autêntico, nada foi inventado.
    O jogo de botão teve origem no futebol e as primeiras regras se utilizavam de bolas esféricas (vassourinha de botão, cortiça, farinha, contas de colar, borracha e a partir dos anos 60, feltro). É isso aí, meu Caro Adauto. Nós, decanos da regra pernambucana (botãobol), ficamos felizes com a divulgação. Muito grato. Abraços, Abiud

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  2. Amigo Abiud Gomes,
    Para mim o que importa é o futebol de mesa. Acho que a aproximação de todos nós, os decanos de todas as regras, mostrará aos jovens que unidos seremos sempre fortes e imbatíveis.
    Admiro a Regra Pernambucana e agradeço ao Armando o envio de dois times para praticá-la. Quando tiver a felicidade de voltar a Recife, irei procurá-los para bater uma bolinha. Em Recife, em 1971 eu estive jogando o 2º Campeonato Brasileiro, promovido pelo amigo inesquecível Ivan Lima. Há dois anos voltei, mas por não estar lendo como o faço agora, os diversos blogs de futebol de mesa, passei em branco. Fui ao aniversário de 80 anos do Padre Aloísio Guerra, meu Irmão Maçom. Fiquei em Olinda e renovei meu amor por essa cidade que sempre me encanta.

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  3. PARABÉNS, SAMBAQUY. FIGURA IMPAR DO BOTONISMO BRASILEIRO.

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  4. Recebi por e-mail do amigão Mário Schemes o seguinte comentário, que ele não conseguiu postar e solicitou que eu o fizesse:
    "Concordo com as palavras do Armando, parabenizando ao amigo por ser um botonista de escol. Descomprometido com qualquer tipo de regra e respeitado por este Brasil afora, tua maior satisfação é reportar-se as coisas do futebo de mesa na sua essência, restando-nos o prazeiroso orgulho de seres gaúcho.
    Mário Schemes.

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