segunda-feira, 28 de abril de 2014

NO FUTEBOL DE MESA HÁ MUITA POESIA!

Orci Miguel
O poeta dos botões
Nada mais agradável para um velho botonista do que encontrar pessoas de sua faixa de idade e imaginar os sonhos desse amigo. Então podemos verificar que o esporte que tanto amamos não se restringiu a um local, mas, pelo contrário, estabeleceu-se em todos os recantos de nosso país, do norte ao sul, do leste ao oeste.
Encontrei um amigo querido, oriundo de Uruguaiana, terra onde morei durante um ano de minha vida e que jogava botão. Não o conheci quando lá estive, apesar de estar com um time de botão e ter outro amigo que praticava o esporte. Esse amigo, que encontrei há poucos anos é um advogado ilustre de Canoas. Além de advogado é um poeta e, numa poesia maravilhosa, escreveu: Dedico com exclusividade à tua pessoa, Adauto. A cópia desses originais fazes por merecer! Em assim sendo, homenageio todos os nossos abnegados botonistas... que, liderados por ti e espelhados em ti, congregados por ti, transmitem, como nós aqui transmitimos à geração que virá após a nossa: o bem querer, a dedicação e a afetividade pelo futebol de mesa... onde ele estiver... e onde encontrarmos este vai e vem colorido de nossos botões em uma mesa que tanto nos empolga e nos apaixona!!
Com o meu apreço, estima e benquereza.

MUITAS RAZÕES HÁ MAIS PARA VIVER
Miguel Xavier Orci

Anos cinquenta, o início em minha cidade,
Jardim florido à Beira-Rio plantado!
Mesa no pátio! Casa no arrabalde...
Dez botões...! Comecei o aprendizado!
“Chicho”! “Galocha”! “Paulo Fitipaldi”!
Maia! Oscar! Jurandir!...Wilson “compadre”...
Oito guris...verdor da mocidade;
Aos sábados à tarde,... à vontade...
Com meus dez “galalites” de verdade;
Recordar é viver...mas que saudade!
#
Meus botões? São relíquias preservadas...!
Todos são valiosos, bem guardados..
Momentos de lazer já vivenciados...!
Mais de doze mil jogos disputados...!
Ao redor duma mesa... caminhados,
Nestes sessenta anos... ”bem vividos!”
#
Regride lentamente a minha memória,
Tal qual um filme a fita retornando...
E um gol inesquecível (!) se apresenta,
Isto faz parte duma linda história!
#
Orci Miguel e seu Bangu em um campeonato gaúcho
O “Meu BANGU”! Paixão d’adolescência,
Suas listras alvirrubras, verticais...
Uma vitória! Mais outra... é bom demais
E a fita retornando... num glossário..
Bolas brancas nas redes se aninhando!
Duas... ou três, no gol adversário!!!
Mais vitória que derrotas! Contingência
Pra quem fez dos botões o seu lazer...
Pra quem cultiva este amor d’adolescência!
Todos meus botões têm meu apreço
Mas... todos os meus botões nenhum tem preço!
A cada qual, bem sei, estão ligadas,
Recordações atuais... tempos antigos;
Pois jungidas a mim... e aos meus amigos!!!
#
Ficha redonda... colorida e plana...
Quase quinhentas em sua quantidade,
Só jogamos com dez! Que insanidade...!
E que saudades de nossa Uruguaiana!
#
O “vai e vem” colorido dos botões,
Nos deixa em cada jogo uma sequela...
De “queixas”, “paixões”, “risos”, “gozações”...
-Me permitem dizer: que a vida é bela!
#
Jovens que me ouvis... – digo a vocês:
Que o botão que jogamos... é “um xadrez”!
Pois partidas iguais, não vi jamais!
Impulsos! Coração! Fé e destreza...!
Dez botões escrevem numa mesa,
Se ali tens no “placar” a tua vitória?!
Páginas da tua vida... da tua história!
#
A vida é um palco! Nós seus atores!
Meus botões, por seus lances: seus autores,
Das derrotas? Ficaram cicatrizes...!!
Vitórias mil?! Momentos tão felizes,
Nos quais me abrigo em meio aos seus matizes,
Para esquecer jornadas infelizes..!
#
Zizinho, Algodão e Gasparzinho,
Cabralzinho, Pitanga e Aladim,
Matheus, Cardeal, Fafá e Valentim...
Só de lembrá-los passo a rir sozinho!
Zoroastro e Alpadrino e Bataclã;
Douglas, Fafá, Braguinha e Ivorã,
Jorge Black, Cyrilo e Canhotinho,
Craques de ontem, craques de amanhã!
Orlando, Pé de Gesso e Angorá!
Botões iguais, por certo não os há,
Neste nosso Universo do Botão!
Um Zózimo! Um Turcão! Um Sapatão!
Tinguá! Biguá! Scotti e Geraldão!
Mencionar os seus nomes como faço,
Deixa de ser dever, é obrigação!
Bonzo e Turcão! “Estrelas luzidias”,
Duma constelação bem conhecida,
Brilharam muitos anos em minha vida!
E fizeram felizes os meus dias!
#
Sim! Falo de conquistas em meus versos!
Tantas foram, momentos e lugares,
As taças e troféus quando os olhares,
Falarão de vitórias e sucessos!
#
Uma delas? Pois bem... eu bem me lembro,
Num dia dezessete de dezembro,
Feliz fiquei! Alegre e tão faceiro!
À tarde, em Novo Hamburgo, o meu herdeiro,
SANTA CRUZ! Como tal é conhecido,
“BI-CAMPEÃO estadual”!!! Reconhecido!
Sem não ter sido por ninguém vencido!
Nada existe melhor pra um Botonista...
Nem deixá-lo exultante e tão feliz,
Do que assistir ao vivo igual conquista...!
De um título que gente sempre quis!
A voz levanto! Acelera o coração!
Pois a vida me deu o galardão,
Ser Pai e Professor de UM BI-CAMPEÃO!
#
Hoje me encontro na casa dos setenta,
E esse orgulho o meu peito ostenta!
Minha caixa de botões? Tudo se ajeita!
Tais lembranças...?! São frutos da colheita,
Amigos? Companheiros? Mais de mil...(!)
Os encontro em todo o meu Brasil!
#
Semeia semeador por onde andares,
Sementes do bem querer, sem te importares
Com quem disputarás uma partida!
Pois é assim que se inicia uma amizade,
Que te acompanhará por toda vida!
#
Os “meus botões”... estão em um sacrário(!)
De alvirrubro cetim... (!) Um Relicário...
Num lugar especial dentro de mim...!
E se algum dia, tu me visitares,
Verás taças e troféus em “seus altares”;
E fotos dos lugares d’onde vim!!
#
Botões polidos... grandes, coloridos,
Num vai e vem na mesa deslizando,
E a expectativa de jogar... ganhando...
E o tic-tac do relógio, avança...
E vai o teu coração acelerando!
Ao chutares as redes já balanças!!
Mágico instante do gol! Então vibrando,
Dás um soco no ar! Um grito lanças!
Num gesto muito próprio das crianças,
Pegas teu goleador com tua mão,
E lhes dá um beijo demorado!
Num gesto de carinho e gratidão!
Isto é ser feliz! Estou errado?
Tudo é alegria, risos, emoção!
O futebol de mesa é uma magia,
Que envolveu a minha vida, dia a dia!
E tu que leste estes meus dispersos,
Despretensiosos e alquebrados versos,
Te digo em segredo nesta “oitiva”;
#
O botão para mim é uma Paixão!
Real! Intensa! Eterna! Enquanto eu viva.
#
Faço destes meus versos... Oração!!
Agradeço ao Meu Deus cada conquista!
Com muita fé! Energia! Muito empenho!
Agradecendo a Deus pelo que tenho!
Posso dizer que sou um botonista!
#
Poeta não sou! Mas, simples missivista,
Que te transmite em forma de poesias,
Momentos lindos! Resumo dos meus dias,
Jogo botões...quem sou? Um enxadrista?!
#
Mas este jogo de botões “antigos”...
Cordão umbilical com meus amigos,
Que há muitos anos já não vejo mais,
Desperta a rima aqui desta poesia,
Desta saudade mista de emoção.
#
Minha Uruguaiana está distante,
Mas todas as distâncias são iguais!
A linda cor de ouro dos trigais!
A verde cor dos arrozais à beça!
As águas claras do Uruguai sem pressa,
-Serão seus pingos gotas de cristais?
Pedras brancas da cor dos meus cabelos!!
Dirigindo-se para as bandas orientais,
Lá, para a direção do sol poente!
Nesta paisagem linda era que a gente...
Jogávamos botões tardes inteiras...
Tendo por perto nossos velhos pais
Centros do meu amor e meus desvelos,
Éramos felizes ali... mas sem sabê-lo!!
Ali, houve abraço dos meus pais,
Nas inesquecíveis festas de Natais!
O ruído alegre de alegres carnavais!!
Irmãos e amigos que não tenho mais!!
Ali, ouvi trinado de pardais,
O assobio do minuano... vendavais!!
#
Agora uma lembrança mais recente...
Ao meu redor, ruídos, muita gente;
Sociedade POLÔNIA, a anfitriã!
Dia de sol, então... linda manhã!
Botonistas amigos lá reunidos,
Uns moços, outros não; outros “antigos”...
Em disputa o Título Estadual!
A competição, já no fim da tarde...
Meu coração como brasa arde!
Os jogos transcorreram sem alarde!
Mas ao final enorme recompensa!
Risos, aplausos, alegria intensa!
“Mil flashes” e manchetes pela imprensa!
Dois mil e seis, novembro; bem me lembro!
Tricampeã a equipe das três cores!
Muitos treinos! Lealdade e alguns suadores!
Permito-me contar para vocês:
“SANTA CRUZ”, ao final, mais uma vez!
TRI-CAMPEÃO! Invicto e Laureado!
Mais um troféu nas mesas conquistado,
Com carinho lá em casa está guardado!
#
Talvez em breves dias... por que não?
Já que a Paixão destes botões nos une,
Pretendo consultar meu coração...
No mundo do botão talvez um dia
Nós, algumas partidas jogaremos...
E sendo assim então nos encontremos...
Ao final dos jogos lembraremos:
A regra importante que aprendemos:
Sermos fieis... Sermos leais... assim seremos!
#
Afirmo nesses versos com certeza:
Que tudo tem seu preço nesta vida...
Vai e vem dos botões em uma mesa,
Em meio ao transcorrer de uma partida,
Deixa então em mim... esta chama acesa...!
Os botões para nós? A nossa esgrima!
E esta saudade cheia de emoção,
Inspirou nestes versos a minha rima!

Esse trabalho deste amigo botonista deve inspirar a tantos amigos espalhados por esse imenso país continente. Tenho certeza de que ao ler tudo isso, o meu amigo Abiud, grande batalhador de Recife, molhará seus olhos com recordações, como o fez o amigo Orci, quando escreveu.
Tri Campeão Eduardo  e Miguel Orci
O Casal de Ouro
Só gente graúda. Merecido reconhecimento
Orci Miguel sendo jubilado
Até a semana que vem se Deus assim permitir.

4 comentários:

  1. Amigão Sambaquy, que deleite! Você tem toda a razão, pois é muita emoção. Miguel Xavier Orci me fez viajar no tempo. Não encontro palavras que possa traduzir tudo de belo que senti com essa maravilhosa poesia. Em suma: sou um amante do botão, por tudo o que ele me proporciona. Valeu, amigão. Obrigado, Miguel Orci! Um forte abraço, bem pernambucano.

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  2. Amigo Abiud,
    Tenho certeza de que vais gostar do Orci. Ele está programando uma viagem a Recife, pois deseja encontrar-se com o Padre Aloísio Guerra, nosso amigo. Quem sabe vocês não se encontram e trocam figurinhas.
    Quando ele estiver para ir eu te aviso. É uma pessoa maravilhosa e um amigo em que podemos confiar sempre.
    Abração
    catarinense/gaúcho/colorado.

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  3. LH.ROZA...
    Como sempre, a cada "COLUNA", ficamos cada vez mais entusiasmado com a beleza que esse nosso lazer, o FUTMESA, nos faz recordar dos bons momentos vividos la na adolescência, e que perduram até os dias atuais.
    Embora já esteja aproveitando a "melhor idade", espero continuar batendo uma bolinha, reencontrado velhos amigos, e se "patroa" não contrariar participar de uma ou outra competição.
    Amigo AC.SAMBAQUY, já havia escutado alguns comentários sobre o botonista Orci Miguel, mas essa outra faceta de "poeta" em muito aumenta nossa admiração...
    Até a próxima ...

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    1. O Orci Miguel é famoso no Rio Grande. É jsto que devas ter escutado alguma coisa a seu respeito. Ele faz parte do grupo do Foschiera em Torres, quando participa dos torneios realizados na regra gaucha.
      É sempre bom poder recordar coisas boas sobre nosso esporte. Um abração meu nobre amigo.

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