segunda-feira, 9 de junho de 2014

AS MUDANÇAS QUE EU VI

Meus amigos, nessa minha ducentésima coluna, abordarei a grande diferença que encontrei no meu regresso ao mundo encantado do futebol de mesa. Como havia parado de jogar em dezembro de 1986, tendo raríssimos encontros, um em setembro de 1994, na Bahia, outro, em novembro de 2002, em Caxias do Sul; mais dois em janeiro de 2004, novamente em Caxias; a minha observação sobre a evolução do jogo ficou em detalhes da regra que haviam sido modificados.
Foi em 2011, por ocasião da realização do Centro Sul, na cidade de Caxias do Sul que voltei a manter contato com botonistas na Regra Brasileira. Para quem iniciou a Regra Brasileira, ainda em 1967, as modificações eram astronômicas. Em 1967, a bolinha era o botãozinho chamado olho de peixe, cujas fotos aparecem para todos conhecerem. Com o desaparecimento desse tipo de botãozinho, foi criada a alternativa do disquinho de polietileno, o qual perdura até os dias atuais. A bolinha já era minha conhecida, não modificou muita coisa, apenas detalhes de cor, pois muitas são brancas, outras amarelas e até azuis.
Falemos, em primeiro lugar, dos times. O goleiro que, nas primeiras versões, possuía uma rebarba, na qual a bolinha ficava encaixada, desapareceu. Tornou-se um tijolo, mas muito mais bonito do que os antigos goleiros. Já não encaixava mais a bolinha, pois isso já havia sido abolido na regra.
As bolinhas utilizadas nos primeiros anos (olho de peixe), a bolinha  da Regra Gaúcha e a bolinha utilizada na Regra Brasileira
Os botões é que sofreram uma mudança muito grande. Os primeiros zagueiros (cavadores) tinham 4,8 centímetros de diâmetro, os médios (levantadores) também na mesma medida, os atacantes 4,6 centímetros e o centro avante 4,2 centímetros. Os atuais são todos do mesmo diâmetro e medem 5,3 centímetros. A grande diferença, no entanto, está na graduação atual que é muito reduzida, chegando a quase serem confundidos os botões de ataque com zagueiros (cavadores). Nos jogos que realizei nesse Centro Sul de Caxias, tinha de perguntar ao meu adversário se o botão era cavador ou levantava a bolinha, tal a dificuldade de ver a caída do mesmo. Num jogo que realizei contra o meu irmão Luiz Ernesto Pizzamiglio, quando estava colocando os meus botões na mesa, como sempre o fiz, cinco atacantes levantadores, ele me advertiu que não se faz mais assim. Que há botonistas que jogam com sete e até oito botões cavadores. Eu sempre joguei com cinco botões cavadores e cinco botões levantadores. Como é que eu iria mudar agora? Isso sem falar no tamanho dos botões. Se colocar na mesa o meu primeiro time (G. E. Flamengo) eles vão parecer dentes de leite, perto dos botões atuais. Além disso, os botões atuais são bem mais baixos do que os antigos, os quais mediam 0,7 centímetros de altura, contra os 0,5 centímetros atuais.

Foto comparativa dos botões de ataque - nota-se a diferença do tamanho dos botões
A inclinação e altura dos mesmos são outra notável diferença
Outro ângulo dos atacantes
A diferença realmente é grande
A mesa foi outra mudança radical. As primeiras mesas tinham sarrafos laterais, com um cordão de nylon para proteger a batida do botão. No centro do campo havia um marcador que indicava o lado onde a bolinha sairia. Era uma peça móvel, pois podia ser afastada se por acaso o botão fosse ser deslocado rente à linha lateral. Essa peça foi suprimida definitivamente.  O sarrafo foi abandonado e, ao redor da mesa, colocada uma rede de proteção que acolhe os botões, evitando a sua caída no chão, coisa que poderia danificá-los. Melhorou muito, pois, mesmo com a proteção do nylon, muitas vezes o botão era impulsionado com força e voltava ao campo, deslocando outros botões. Agora ele sai e fica na rede, depositado, sendo retirado pelo árbitro e colocado à margem do campo. As mesas, que eram confeccionadas de pau marfim, estão sendo modificadas para madeiras nobres, idênticas às usadas no nordeste. Ficou muito melhor e mais agradável a mudança verificada.
Mesa mais Antiga com os sarrafos

Mesa Atual com a rede de proteção
Nos primeiros anos usava-se palheta (ficha), unha ou pente para acionar os botões. No meu retorno eu encontro a régua. E a grande maioria dos botonistas é usuária da régua. Até mesmo na Bahia, onde encontrei centenas de botonistas que jogavam com a unha, a régua é usada pela grande maioria deles na atualidade. Confesso que admirava a impulsão que os baianos faziam com suas unhas, pois era um futebol de mesa cadenciado e jogado na mesa com os botões, na sua totalidade, dentro do campo. Era um verdadeiro jogo de caça ao rato, tirando a nossa defesa e deixando o centro avante pronto para encobrir o nosso goleiro. Aprendi, mesmo com palheta, a ter um toque sutil no botão, a ponto de um botonista da regra de 12 toques ficar ao meu lado e tentar escutar o barulho do deslocamento do botão pela palheta. E ele dizia para os demais: - Incrível, não se escuta a batida da palheta na mesa...
Fichas (palhetas) e as atuais Réguas

Giovanni Moscovitz, que foi campeão brasileiro em jaguarão, jogando de régua
Por essa razão as cavadas se tornaram tão importantes no futebol de mesa atual. Já, na cobrança do tiro de meta, o zagueiro é impulsionado à lateral do campo e a bolinha jogada no campo adversário. No início, jogava-se fazendo o zagueiro lançar a bolinha e de maneira que ficasse na frente do zagueiro adversário, impossibilitando a rebatida, tendo o cuidado de não jogar o botão adversário para fora do campo, pois será falta técnica. Com isso teríamos chance de chutar ao gol adversário. Aliás, a falta técnica foi criada após o primeiro brasileiro, pois na Bahia havia um botonista chamado Cesar Zama que conseguia, num lance, retirar dois botões de defesa adversários, deixando a bolinha na entrada da área, pronta para ser arremessada ao gol. O Cesar Zama era habilíssimo nesse tipo de jogada. Tentou me ensinar, mas nunca fui bom em jogar snooker e, por isso, não consegui nunca fazer o que ele realizava com facilidade.
Devo dizer que, na atualidade, eu encontrei organizações muito melhores do que as que tínhamos. Pessoas comprometidas e organizadas. A facilidade, em parte, deve-se ao reconhecimento pelo CND, credenciando o futebol de mesa como esporte. Com isso, o amparo legal por parte de órgãos públicos tem feito engrandecer o nosso esporte. Com essas organizações comandando o esporte, a quantidade de botonistas aumentou consideravelmente, embora sinta que as novas gerações ainda relutam em se iniciar no nosso esporte. O importante é mostrar a eles que existimos e, quando os compromissos com estudos e namoros se concretizarem, acredito que muitos voltarão ao nosso meio e serão grandes botonistas.
Louve-se a dedicação do pessoal da AFM Caxias do Sul que “adotou” dois meninos e que, em pouco tempo, serão adultos, mas que persistem em mostrar aos demais que devem seguir praticando o futebol de mesa. São exemplos assim que devem ser valorizados.
Mesmo sentindo saudade do “meu tempo” de futebol de mesa, vejo a beleza das realizações que são feitas e da organização que impera em nosso esporte. Fico feliz, pois ajudei a iniciar tudo isso e não há vitória maior do que esta. Ver gente feliz jogando botão.


Até a semana que vem, se Deus assim permitir.

4 comentários:

  1. Parabéns, amigão Sambaquy, pela coluna de nº 200. Realmente, o futebol de botão está um tanto quanto diferente do futebol de antigamente. No botãobol não foi diferente. Hoje, os botões são maiores, os campos são melhores dos que os de antigamente. As mudanças na regra deram mais dinâmica ao jogo. Fico feliz por participar desse universo e acompanhar todas essas mudanças. Sobre as outras regras, a paulista (doze toques, bola de feltro) é a única que observei um retrocesso. Não nos botões, nem nos campos, mas na maneira de jogar, sem rebote. Chutou, perde a posse de bola. Ficou o que eu chamo de lá e lô, como no dominó. Valeu, amigão. Um forte abraço bem pernambucano, com gosto de Copa do Mundo e de São João.

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  2. É isso dai meu amigo Abiud, o tempo passa e as coisas se modificam. Algumas para melhor e outras nem tanto. Felizmente o botãobol só conseguiu angariar coisas boas. Gosto do estilo dos times que vocês usam. Tenho dois times, os quais irão me acompanhar quando for até Recife. Faço questão de colocá-los na mesa. Colocar, pois jogar vai ser difícil. Sei da qualidade que os amantes da rainha das regras possuem.
    Um abração com gostinho de São João e Copa do Mundo.

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  3. LH.ROZA....
    O RETORNO...coisa de aposentado, andei me atrapalhando com essa tal de INTERNET....
    Bem, vamos ao que interessa, ou seja comentar esse nosso lazer o "FUTMESA". Realmente os tempos são outros, e claro que as novidades vieram proporcionar novas habilidades aos BOTONISTAS.
    A padronização dos BOTÕES, previstas na regra entre medias máximas 10 x 6mm, o toque refinado dos ARTESÕES, tornando a competitividade entre eles mais aguerrida, nem sempre amistosas.
    Todo plantel, feito conforme as preferencias dos técnicos, são os "MELHORES" desde que lhe levem a conquista de TÍTULOS, visto que nem sempre as habilidades se sobrepõem, basta levar um gol e o nervosismo toma conta desequilibrando o emocional.
    Quanto a utilização de diversos "GRAUS": 15 -13 -11 -10, para os ATACANTES, vai depender das MESAS, dependendo da região, do clima, e do próprio adversário.
    Finalizando, sempre é uma grande expectativa esperar pela próxima postagem do AMIGO.
    Até + e 1 forte abç.

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    Respostas
    1. Roza, basta levar um gol e o nervosismo toma conta desequilibrando o emocional. E se for gol contra? Pior ainda. Quanto aos graus para os atacantes, eu acredito que a saudade priorizou os gols mais bonitos feitos no passado. Hoje em dia é na base da força, por isso a régua, quando o chute de unha ou palheta era mais suave. Mas, tudo é válido para o nosso esporte. Ainda bem que conseguiste retornar aos comentários, pois estava sentindo a sua ausência.
      Amigo é para essas coisas. Abração.

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